domingo, 3 de junho de 2012

100 coisas que o Porto tem...

...e não se encontram em Lisboa. Uma seleção de razões para o Porto ter sido escolhido como o melhor destino europeu de 2012 pelos turistas. Um guia para os que não conhecem bem a cidade e um rol de motivos de orgulho para quem a vive. Espreitadela à cidade barroca, enriquecida com obras de três Pritzker e à Invicta Mui Nobre e Sempre Leal Cidade do Porto a que D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil deixou o coração, através de textos de Agostinho Santos, Carla Sofia Luz, Dora Mota, Germano Silva, Ivete Carneiro, Jorge Fiel, José Miguel Gaspar, Paula Ferreira, Paulo Ferreira, Pedro Ivo Carvalho, Pedro Olavo Simões, Sara Oliveira, Sérgio Almeida e Tiago Alves. A Colher de Jardineiro de Oldenburg Toda a cidade que se preze tem uma escultura gigante da dupla Claes Oldenburg e Coosje van Bruggen. Filadélfia tem a Mola de Roupa. Chicago, a Carteira de Fósforos. Tóquio, a Serra. O Porto tem a Colher de Jardineiro, mais de sete metros de altura, levemente enterrada no Jardim de Serralves e visível da Avenida Marechal Gomes da Costa. Se perguntarem no Porto onde fica a estátua da Juventude, provavelmente ninguém dará a informação certa. Mas se indagarem pela Menina Nua, apontarão de imediato a Avenida dos Aliados. É de mármore e foi feita por Henrique Moreira. A jovem que serviu de modelo morreu, recentemente, de avançada idade e cega. O edifício da Alfândega Nova, iniciado em 1859, com projeto da Casa Seyrig (a mesma da Ponte Luiz I), foi construído sobre estacas, num areio de Miragaia. Epicentro mercante da cidade, permaneceu solene na linha de rio, com a sua austeridade granítica a receber requalificação para museu e centro de congressos pelo traço de Eduardo Souto de Moura, nos anos 1990. Atravessar as portas azuis à saloon do Alfredo, na Rua do Cativo (Cimo da Vila), é entrar num Porto de outros tempos. Os azulejos nas paredes, o balcão de alumínio e as pipas de vinho não enganam: é uma verdadeira tasca. No coração da Sé alta, o Alfredo é o local de eleição para terminar o dia com uma malga de verde tinto e um pastel de bacalhau. Na Praça de São Salvador, a porta de entrada em Matosinhos pela beira-mar, esta é provavelmente a mais vistosa das obras de arte pública do Porto. A autora, a norte-americana Janet Echelman, chamou-lhe She Moves (o que é verdade, move-se ao sabor do vento), mas o pessoal rebatizou-a de Anémona, e tudo leva a crer que fez bem. A enorme rede, de um vermelho acobreado, é uma homenagem aos pescadores. As três torres em que assenta evocam as chaminés das fábricas conserveiras de Matosinhos, que nos tempos áureos da indústria eram mais de meia centena, das quais apenas duas (Pinhais e Ramirez) sobreviveram. Impressiona pela intensidade do olhar, a perturbadora frieza das feições e o ar grave e sério com que a pintora se retrata, fazendo o seu próprio caminho e afastando--se da estética naturalista do mainstream da pintura portuguesa da segunda metade do século XIX em que pontificavam Columbano, Silva Porto e Malhoa. Pode ser visto no Museu Nacional Soares dos Reis. Há 41 anos que o Batô, com a sua ortografia afrancesada e desajeitada, resiste no Largo do Castelo, em Leça da Palmeira, como um dos sítios icónicos da música pop rock no Porto. Já não há alcatifa nem velas e a música não chega através dos comissários da TAP, mas o barco segue navegando de geração em geração sem perder vapor. A broa escura, de paladar denso e distinto, brotou do vigor das águas do Febros que faziam rodopiar os moinhos e da fibra das mulheres de Avintes. Antes de rumarem Douro abaixo com as canastras, as padeiras madrugadoras suspiravam preces ao bater a massa. A broa fez a vila gaiense crescer e tornou-se símbolo regional. Hoje a produção está industrializada. Mas não há quem a dispense no São João, com a sardinha assada, e dá mote à celebração de agosto nesta freguesia de Gaia. Torre de escritórios de vidro e aço é um elemento pouco usual na obra do nosso segundo Pritzker. «Visto da Via de Cintura Interna é um grande espelho. Para quem sobe a Boavista é um muro de pedra», explica Souto de Moura. À face da maior avenida do país, é constituído por uma torre e por um edifício baixo, que dialogam através de um pátio pontuado por uma escultura de Ângelo de Sousa. Atrás das grades do ângulo esquerdo do frontão, ouve-se uma pena a riscar papel incerto como imaginamos o de 1861. Na cela 12 do andar dos ilustres, três pisos acima das enxovias populares, Camilo Castelo Branco insurge-se contra o preconceito que o pôs ali um ano e 16 dias por amar a casada Ana Plácido. Conta a história de Simão e Teresa e da morte por amor, apadrinhado por um Robin dos Bosques à portuguesa, Zé do Telhado, companheiro na cadeia que foi cadeia por duzentos anos e que hoje é o Centro Português de Fotografia. Concertos, tertúlias, recitais de poesia ou exposições de artes plásticas fazem parte do dia a dia do Guarany, um dos mais cosmopolitas cafés portuenses, situado em plenos Aliados e com as paredes decoradas por pinturas de Graça Morais. Desde 1933 que o Café dos Músicos, frequentado por inúmeros turistas, é garantia de momentos bem passados. Situado no coração da Baixa (Rua de Santa Catarina), é muito mais do que um café. Tomar um cimbalino no Majestic é recuar à era dos cafés-tertúlia, à cidade dos anos 1920. Integra todos os roteiros turísticos da cidade. Razão pela qual se transforma numa babel de gente. Entre outros clientes ilustres, figuram Jacques Chirac e Gago Coutinho - este último esteve na inauguração, há mais de noventa anos. Café Piolho (Âncora d"Ouro) Inaugurado em 1909, esteve sempre na linha da frente: foi o primeiro café no Porto a ter eletricidade, TV (1957) e a máquina cafeeira italiana La Cimbali Ninguém se lembre de pedir bica no Porto. Um café é um café, e o «cimbalino» só surgiu pela necessidade de distinguir o expresso, dada a perseverança do café de saco. Hoje, o café de saco é uma raridade mantida no centenário Progresso, que sempre teve fama de o fazer melhor do que todos. A fama de se comer bem neste restaurante da Foz do Douro, que persiste em continuar na moda, atravessou o Atlântico e levou Dilma a prolongar uma escala técnica no Porto para comer o famoso bacalhau, que daí em diante foi rebatizado com o nome da presidente do Brasil. O chef Camilo Jaña aprimorou a ementa e alargou as alternativas, ao melhorar o espaço de tapas que fica uma esquina acima do Cafeína. Um clássico. Mas um clássico com classe. Cidade encavalitada nas encostas, sem vertigem, com o Douro a banhar-lhe os pés. Prédios esguios com varandas de ferro forjado e roupa a secar nas janelas, muitas vezes decrépitas. A vida, com sotaque e coração a palpitar na língua afiada partilha-se nas casas exíguas e no empedrado estreito do centro histórico, encimado pela Sé do Porto. E a luz, com sol ou neblina, faz lembrar as aguarelas de António Cruz. A encosta encantada do Porto reconhece-se melhor de Gaia, ali mesmo no cais que já foi terreno perdido da Administração dos Portos do Douro e Leixões e hoje é parte da cidade. Rapidamente se alcandorou a símbolo do Porto e a bandeira da modernidade cultural do país. Já poucos imaginariam a paisagem do Porto sem o cubo que ombreia com a Rotunda da Boavista. Marco da Capital Europeia da Cultura, em 2001, tem a assinatura de Rem Koolhaas (um dos três Pritzker da cidade, a par de Souto de Moura e Siza Vieira), tem vasta e eclética programação, aliando ao seu propósito cultural e arquitetónico uma vocação de cidadania, com relevo para o trabalho desenvolvido pelo Serviço Educativo Casa de Chá da Boa Nova A visão do mar a estilhaçar-se nas rochas, do aconchego de um sofá de couro coçado, é porventura o que mais marca quem aqui desce para um chá. A primeira obra-prima de Siza Vieira, desenhada em 1958, na juventude, está fechada para remodelação. Para já resta a memória do odor de materiais nobres polidos por mais de cinco décadas de tertúlias. E da vista, para o Farol da Boa Nova, para a capela do mesmo nome, erguida de frente para as agruras do mar sempre nervoso. De que o infante D. Henrique nasceu no Porto não há dúvidas. Mas menos certo é que, como reza a tradição, tenha visto a luz na Casa do Infante, a velha alfândega régia. É o que menos importa. Na Ribeira, espécie de segundo núcleo da génese da cidade e berço do Porto mercantil, o edifício que alberga o Arquivo Histórico Municipal tem tudo que ver com a forma como o Porto se fez grande. À antiga Casa da Câmara chamam agora, erradamente, Casa dos 24 A cidade tem o vinho do porto, mesmo que suscetibilidades pudessem ser arranhadas lá no Douro vinhateiro onde o néctar se faz. Mas não há que disputar a primazia entre a terra dos vinhedos e o grande centro de onde os produtores levaram para o mundo uma das mais distintivas marcas do país e da cidade, apenas alcançada pelo FC Porto em prestígio internacional. Nas caves, em Vila Nova de Gaia, que subsistem como produto turístico de elevado potencial, flutuam pelo ar o espírito dos vinhos e as almas de gente como a Ferreirinha ou o barão de Forrester, ou ainda a mão de ferro de Sebastião José, o tal que criou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, estatuindo a mais antiga região demarcada do mundo e transformando o vinho no instrumento regulador da vida de muita gente. O vinho do porto é doçura, sofrimento, arte. É o charme de uma região e de um país, e as caves são a passerelle onde se mostra a um planeta inteiro. Da autoria de Cassiano Branco, é uma das mais belas salas de espetáculos do país. Inaugurada em 1941, com um concerto da Sinfónica Nacional dirigida pelo maestro Pedro de Freitas Branco, sobreviveu a um incêndio e à tentativa de compra pela IURD. Os concertos promenade, nalgumas manhãs de domingo, são imperdíveis. Como prova de reconhecimento pelo heroísmo com que os portuenses se haviam batido a seu lado no Cerco (1832/33), D. Pedro IV, num gesto romântico, legou à cidade o seu coração. Mas não disse onde queria que ficasse. Na Sé, diziam uns, por ser o templo mais emblemático da cidade. Na igreja da Serra do Pilar argumentavam outros, por ter sido ali que se fez a verdadeira defesa da cidade. Na Igreja da Lapa, mandou a imperatriz viúva, por ser lá que o monarca assistia à missa. Mas a chave do mausoléu onde se guarda o coração real está no gabinete do presidente da câmara. O coração é da cidade. Neste restaurante da Rua do Heroísmo quem manda são os tradicionais sabores da terra nortenha. Os alimentos são todos de primeira qualidade e as refeições, bem apuradas, servem-se na típica louçaria de barro. A não perder o cabritinho assado em forno a lenha com arroz de miúdos, e o sortido de sobremesas que inclui rabanadas o ano inteiro. Cruzeiros no Douro Seguindo o serpentear do Douro, a correnteza do rio leva-nos até à Foz, tendo como companhia a paisagem de Património Mundial. No Douro há cruzeiros para todos os bolsos. Desde o que passa pelas pontes que unem Gaia ao Porto, até aos cruzeiros de vários dias que sobem o rio até à região do Alto Douro Vinhateiro. DOP Num Palácio que é das Artes, a arte gastronómica do chef Rui Paula fica bem à mesa, com certeza. Portuense de nascimento e duriense de alma e coração, foi no DOP que Rui Paula estendeu o lastro que trazia do DOC (em Folgosa do Douro). A sua comida ganhou a exuberância e a consistência dos melhores restaurantes de Portugal. Para os interessados: a carta de vinhos é excelente. Dragão Há estádios imponentes, como o Emirates Stadium, onde joga o Arsenal, ou o velhinho Maracanã, no Brasil. Há estádios arrepiantes, como o Anfield Road, onde os adeptos do Liverpool cantam o lindíssimo You Will Never Walk Alone. E há estádios esteticamente brilhantes, como o Estádio do Dragão. A obra de arte de Manuel Salgado fica para a posteridade como um dos símbolos maiores da Invicta. Edifício Vodafone O monólito de betão branco, ondulado e de bicos aguçados com losangos translúcidos trouxe modernidade à maior avenida do Porto, que tem trocado os palacetes de outrora por edifícios convencionais e sem rasgo. A sede da Vodafone saiu do estirador dos arquitetos José António Barbosa e Pedro Guimarães convertendo-se numa das peças de referência da nova arquitetura da Invicta. O puzzle da operadora de telemóveis abriu há três anos, correu o mundo e foi eleito edifício do ano 2010 pelos leitores do site ArchDaily. Esplanada da Praia da Luz Ganhou a fama nos anos 1990 com as animadas noites de verão de copo na mão e as tranquilas manhãs de inverno de manta nas pernas. Foi crescendo e tornou-se um restaurante de prestígio. É paragem obrigatória da marginal da Foz e, com o rochedo Gilreu em pano de fundo, é um dos locais mais privilegiados para ver o pôr do Sol. Mesmo com a renovada marginal de Matosinhos e as bandeiras azuis de Vila Nova de Gaia, é nas avenidas Brasil e Montevideu, sob a clássica Pérgola, que os passeios à beira-mar sabem m É à volta da cúbica escultura de José Rodrigues que se estendem. Se em tempos era daquele local da cidade que chegavam e saíam as mercadorias, hoje são os turistas que chegam em massa a esta praça. Ladeada pelo típico casario portuense e com o São João Batista, de José Cutileiro, a velar em cima da fonte, de dia ou de noite, o antigo Cais da Ribeira exala Porto por todos os poros. Com sotaque vincado e orgulhoso. Estação de São Bento Os azulejos de Jorge Colaço contribuíram muito para que a Estação de São Bento (obra do arquiteto Marques da Silva) fosse considerada uma das 15 mais bonitas do mundo. São vinte mil azulejos pintados, na sua maioria, a azul e branco. Quando o artista os colocou, em 1915, esse momento foi considerado o acontecimento artístico mais marcante da época. São alusivos aos transportes e a episódios históricos, como a entrada de D. João I na cidade, quando do seu casamento com Filipa de Lencastre, e a submissão de Egas Moniz e família ao rei de Leão. A uma distância percorrível a pé, estão outros painéis de azulejos de visita obrigatória: Igreja de Santo Ildefonso (Batalha), Capela das Almas (esquina de Santa Catarina com Fernandes Tomás) e Igreja do Carmo (Praça dos Leões). Faculdade de Arquitetura Riscada por Siza, a faculdade, que é o coração da famosa Escola de Arquitetura do Porto, acomoda-se com harmonia nos socalcos da encosta que desce até ao rio. Como é habitual na obra do nosso primeiro Pritzker, a sobriedade e a austeridade exteriores são complementadas com surpreendentes espaços interiores, amplos e luminosos. A maqueta do projeto é a única obra de um português em exposição na sala de arquitetura do Centro Pompidou. Faculdade de Economia Considerada pelo Wall Street Journal a 29.ª melhor escola de Economia do mundo, a Faculdade de Economia do Porto é uma peça arquitetónica de graves e majestosos monólitos que comunicam entre si. Modernista, corbusiana e fiel à Escola do Porto, a obra foi erguida de 1961 a 1974 pelo arquiteto Viana de Lima (1913-1991). Fantasporto Tarantino e Méliès, Lynch e a Nouvelle Vague, os pinkus, os expressionistas, os Série B e, claro, a última apanha de indecências gore. É tudo isto o Fantasporto, especialíssimo certame de cinema inventado há 32 anos por Mário Dorminsky, em que, ainda hoje, apesar do aburguesamento do festival, é permitido ao público desatar a uivar. Se o Porto é, como os portuenses juram, uma «nação», o Futebol Clube do Porto é uma emoção. Melhor: é um imparável turbilhão de emoções, uma montanha-russa de grandes sensações, enfim, uma oleadíssima máquina de produção de sentimentos. Cá dentro ou lá fora, o Dragão só sabe correr pela vitória. Essa força transmite-se com facilidade à crescente massa humana que se revê no clube mas, sobretudo, entende o significado da argamassa que ganha robustez a cada ano que passa: mais do que uma mera instituição da cidade e do Norte, o FC Porto é identitário. Mas identitário a sério: as conquistas do clube são resultado do labor. Do mesmo tipo de labor que caleja as mãos aos agricultores de Trás--os-Montes ou que enegrece os pés de quem pisa as uvas no Douro. Frente marítima de Gaia Ter a praia na cidade: 15 quilómetros de costa atlântica transformaram a orla marítima de Gaia num dos grandes pontos de atração da região no que ao lazer respeita. Para a qualidade da zona balnear (reconhecida com um pleno de bandeiras azuis) são argumentos de peso as múltiplas esplanadas e bons apoios de praia, que, em dias de sol, criam jornadas inesquecíveis. Aproveitada por milhares para fazer exercício ou meras caminhadas. Os bons acessos tornaram rápida qualquer viagem até à esplanada. Fons Vitae É a joia da coroa do importante e valioso espólio artístico da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Apesar das muitas pesquisas já feitas, não se sabe quem pintou este quadro. Parece certo que é da Escola de Bruxelas e que deve ter sido encomendado para figurar já na primitiva sede da Irmandade, na Capela de São Tiago, na Sé. Durante muitos anos andou como que desaparecido. Foi descoberto em 1824, no decurso de umas obras que se andavam a fazer na sacristia da igreja. Quem o adquiriu? Que personagens estão nele retratadas? Interrogações que persistem. Francesinha Não há volta a dar-lhe, a francesinha é do Porto e tudo o que se faz Portugal afora são sofríveis imitações. Ou coisa pior. Há ingredientes essenciais que têm de ser comprados num talho do Bolhão: se o mais popular petisco da cidade fosse certificado, dúvidas não haveria. Jovem de 60 anos e inventada na Regaleira por um tal Daniel Silva Fundação de Serralves Hoje está em festa. Na reta final de mais uma edição de Serralves em Festa. Serralves antecipa o São João, é cultura, e também é natureza. Da casa, exemplar de art déco que o Estado adquiriu à família do conde de Vizela, na década de 1980, caminhou para o Museu de Arte Moderna, de Álvaro Siza. Serralves é mais do que arte - com as exposições de Paula Rêgo, Andy Wahrol, Francis Bacon, Ângelo de Sousa ou Fernando Lanhas - e arquitetura. É um parque imenso, recheado de espécies raras e de belos roseirais. E é também a Casa Agrícola, que com o seu serviço educativo mostra a muitas crianças de onde vêm as alfaces antes de chegarem à prateleira do supermercado. Grande Hotel do Porto O Grande Hotel do Porto foi construído, na Rua de Santa Catarina, onde existiu, antes, um palacete, que foi residência de D. Antónia Adelaide Ferreira, a célebre Ferreirinha da Régua. Depois albergou um teatro. O hotel foi poiso habitual de escritores como Eça e Ramalho Ortigão. Num dos seus quartos faleceu, em 28 de dezembro de 1889, a imperatriz do Brasil D. Teresa Cristina Maria, mulher de D. Pedro II, que um movimento republicano depusera, um mês antes, de imperador do Brasil. Iam para o exílio. Habitação na Carvalhosa Edifício Arménio Losa Mestre do modernismo, Arménio Losa desenhou prédios de habitação, fábricas e escritórios, com traço convicto e sem deixar subjugar-se às regras de uma arquitetura nacionalista ao gosto de Salazar. A insurreição valeu-lhe a perseguição pelo regime e a reprovação de projetos, mas não o quebrou. Trabalhou ao lado de Cassiano Barbosa e foi o primeiro responsável do gabinete de urbanismo da Câmara do Porto. A herança do homem sem medo ficou na cidade com peças modernistas como o prédio de habitação na Rua da Boavista 571-573, à Carvalhosa, e o Edifício Soares e Irmão, na Rua de Ceuta, que, há quatro anos, o IGESPAR considerou não ser digno de distinção nacional. Igreja de São Francisco É chamada a igreja de ouro devido à sumptuosidade da talha barroca que a reveste e submergiu por completo a primitiva estrutura gótica do templo. Por muitas vezes que a visite, nunca deixará de ficar impressionado com os duzentos quilos de ouro distribuídos pelo altar, coluna e pilares. As sepulturas românticas que complementam a visita à igreja eram o local preferido para o adolescente Pedro Abrunhosa se declarar às raparigas. Igreja de Santa Clara Escondida, discreta e quase impercetível para quem ao largo passa, a igreja do velho convento das clarissas, que deixou de o ser quando a última morreu, em cumprimento do que décadas antes estipulara Joaquim António de Aguiar, o mata-frades. Dupla é a face do templo, com o gótico exterior a embrulhar o espantoso tesouro de talha barroca que o veste por dentro. Igreja românica de Cedofeita Surpreende a igrejinha românica de São Martinho de Cedofeita pelo que é, resquício medieval num ponto distante do que era o velho burgo portuense. É a mais antiga igreja da cidade: há elementos do século ix e referências à existência ali, antes, de um templo suevo, se bem que o que está à vista seja o produto de muitas remodelações ao longo do tempo. Indústria A Indústria ou o Indústria - o género vai variando - não fica na afamada Baixa, mas é um espaço incontornável da noite portuense. Aqui nasceram festas como o Amazing ou a Geração Vinil. Musicalmente, sempre esteve à frente do tempo e, hoje, sendo Tó Pereira - o DJ Vibe - um dos donos, a qualidade sonora é mais do que garantida. Infante Sagres O primeiro cinco estrelas do Porto, mandado construir pelo industrial Delfim Ferreira, viu revigorada a sua história com a localização privilegiada junto ao bairro das artes e bares do Porto. É do grupo Lágrimas e integra a elite dos Small Luxury Hotels of the World. Está num edifício dos anos 1950, que cruza um estilo neobarroco com um estilo contemporâneo Intercontinental É a derradeira encarnação do Palácio das Cardosas, proa da Praça da Liberdade, no coração do Porto. A primeira unidade hoteleira do grupo internacional em Portugal escolheu um edifício imponente que nasceu para alojar o clero, deu teto à vida burguesa das Cardosas, com herança importada do Brasil, e serviu a banca entre os anos 1980 e 1990. Jardim Botânico Japoneiras, juníperos, pavónias, olhos--de-gato, catos de cores apocalípticas, a planta-fantasma digna de Bolaño (dizem que se vê com o coração) ou os fantasmas infantes de Sophia e Ruben A.: são infindáveis as razões estéticas e literárias para amar o Jardim Botânico e a sua rubra Casa Andresen. Largo do Colégio É uma das vistas deslumbrantes sobre o Porto medieval, o Douro e a outra margem do rio. Escondido sob o terreiro da Sé, o Largo do Colégio ou dos Grilos ganha a forma de adro da Igreja de São Lourenço. Vale a pena descer as estreitas ruas da Sé e deixar os olhos repastar um Porto ainda desconhecido por turistas, e por muitos autóctones. Livraria Académica Fundada em 1912, há cem anos, é o único estabelecimento do seu género onde ainda funciona, aos sábados de manhã, uma tertúlia à moda antiga. Muito por culpa do proprietário, Nuno Canavez, que com as suas histórias e boa disposição anima os debates. Frequentam-na médicos, engenheiros, professores universitários, jornalistas, mestres de História e simples amantes de livros e da cultura portuense. O que se discute? O Porto, acima de tudo. Não é exagero algum afirmar que o Quarteirão dos Livros teve a sua génese na Académica... Foi considerada pelo jornal inglês The Guardian «uma das mais belas do mundo». Exagero ou não, a livraria, inaugurada em 1906, é um ponto de paragem obrigatória. Verdadeira catedral do saber, ao estilo neogótico, com a serpenteante escadaria rubra, os tetos trabalhados e os vitrais multicolores que têm cativado ao longo dos anos sucessivos escritores, como o catalão Enrique Vila-Matas, mas também guias de viagens e enciclopédias. À entrada da Avenida dos Aliados, para quem vai da Praça da Liberdade, há dois curiosos edifícios O Bolhão são duas coisas: o edifício retangular alongado de dois pisos com linhas arquitetónicas e gramática decorativa neoclássica tardia (foi erguido em plena Primeira Guerra Mundial e hoje está severamente degradado); e o «edifício» de vernáculo vocabular que ali orgulhosamente subsiste como património vivo da humanidade. Emblema da arquitetura do ferro, é também um símbolo da alma do Porto, com as linhas sóbrias a destacar-se num quarteirão de pesos-pesados do património. Está ao lado do Palácio da Bolsa, a rematar o casario da Ribeira, na praça com o nome do príncipe portuense que impulsionou a aventura marítima, o infante D. Henrique. Foi feito para ser mercado, mas nunca o chegou a ser. Desenhado pelo arquiteto João Carlos Machado, construiu-se em 1888 pela Companhia Aliança (a Fundição de Massarelos), tornando-se exemplo de técnicas de manuseamento do ferro. Foi palco de eventos culturais, funcionando como espaço multiusos, até em setembro de 2010 se tornar a casa do Hard Club - famoso clube de concertos de Vila Nova de Gaia. A adaptação do interior esteve a cargo do arquiteto Francisco Aires Mateus, que criou espaço para espetáculos com mais de mil pessoas. Metro do Porto É muito mais do que um sistema de transportes e uma empresa estruturante do espaço urbano. Concebido por Eduardo Souto de Moura, é uma obra de arte premiada internacionalmente, onde estão espalhadas as impressões digitais dos nomes mais luminosos da Escola de Arquitetura do Porto, como Siza Vieira, Alcino Soutinho e Adalberto Dias, entre outros. Quem disse que a melhor maneira de viajarmos entre dois pontos implica andar debaixo de terra? Era um paredão sobre um rio dito Frio, descido do Carregal até à praia, nesse tempo em que Miragaia mirava, efetivamente, Gaia e em que não havia alfândega no areal duriense. É ainda um rio, mas cor de telha, que desce do miradouro que era das Virtudes, pela benfazeja água da fonte e pela falta que havia delas, virtudes, no aconchego das sombras dos arcos. Acima de tudo, dali abraça-se o belíssimo suicídio do Douro. A Marisqueira de Matosinhos tem tudo, até o nome para simbolizar o cluster de magníficos restaurantes de peixe e frutos do mar que celebrizou o concelho vizinho do Porto. O restaurante onde o sportinguista Miguel trabalha desde os 14 anos e se tornou sua propriedade na sequência de um MBO acordado com o antigo dono (Henrique Torres) é frequentado por Belmiro de Azevedo, Pinto da Costa, Miguel Veiga e outras figuras do Porto (e não só, também é preferido pelos árbitros estrangeiros) que não resistem a e Nas ruas onde só existiam armazéns de tecidos nasceu a movida do Porto. A Rua da Galeria de Paris foi tomada como o centro desta revolução. São agora várias as artérias que acolhem dezenas de bares e muita animação e à da Galeria de Paris juntam-se as Ruas de Cândido dos Reis, Conde de Vizela e a Praça D. Filipa de Lencastre, entre outras, que se enchem de gente que prefere estar na rua a conviver, mesmo com frio, em vez de ficar nos espaços noturnos. Dita «fernandina», a cerca da cidade mandada construir no reinado de D. Afonso IV soçobrou à política de modernização e expansão do burgo protagonizada pelos Almadas (João de Almada e Melo, pai, e Francisco de Almada e Mendonça, filho), nos idos de setecentos. Dos vários vestígios que ainda restam, o mais impressionante é o que está na inexpugnável escarpa dos Guindais. O antigo Palácio dos Carrancas é, desde 1940, um museu cuja coleção permanente se baseia em três núcleos: escultura de Soares dos Reis; pintura portuguesa do século xix e da primeira metade do século xx (com destaque para Henrique Pousão e Vieira Portuense); e faiança proveniente das famosas fábricas de Porto e Gaia. Merecem ainda referência as coleções de ourivesaria, de mobiliário, têxteis e de vidro. Terminada a guerra civil (1832/33), a confraria de Nossa Senhora da Vitória tratou de recuperar a igreja, que sofrera graves estragos durante o Cerco, e encomendou ao grande escultor Soares dos Reis a imagem da padroeira. Mas quando a escultura chegou os da confraria não gostaram da cara da Senhora. Parecia, argumentaram, a de uma vulgar mulher da rua. Foram-se à imagem, cortaram-lhe a cabeça e encomendaram a um santeiro da Maia um rosto mais angélico - o que a imagem ostenta. Comparem-no com o de Soares dos Reis que o pároco da altura guardou e o atual ainda possui. Constatarão que o deste é bem mais bonito. Escultura de mármore de Soares dos Reis (1847-1889). Estilo realista, representa um modelo de sexo masculino, nu, sentado sobre um rochedo em que bate uma onda. Proporcionando uma leitura romântica devido ao olhar profundo que o rosto indica, a obra foi iniciada pelo escultor em Itália, em 1872, e concluída em 1879, no Porto. Faz parte da coleção que leva o nome do escultor. Onde tudo o que é Porto começou há de tudo à vista, dos elementos medievais aos barrocos. Há o traço de Nasoni na galilé e no paço, há um esplendoroso altar de prata carregado de lenda. Longe vai o tempo em que eram os bispos senhores do burgo, mas há ainda ali, no topo dessa Penaventosa onde a cidade surgiu muito antes de cidade ser, essa sensação de centro do mundo. As salas das sessões públicas da Câmara e o Salão Nobre, ambas sem portas, abertas para o interior e transparentes ao exterior, expressam a filosofia do novo poder democrático, exercido à vista do povo, num edifício assinado por Alcino Soutinho e enriquecido com esculturas e pinturas de artistas como João Cutileiro e Júlio Resende. Com esta sua notável obra, Júlio Resende quis homenagear a cidade do trabalho e da liberdade. A pintura revela, também, a paixão do artista pela zona ribeirinha ali materializada em algumas das suas personagens mais típicas: as mulheres no seu constante gesticular, a correria dos putos, a briga dos cachorros. Tudo isto emoldurado pela rudeza do granito e envolto nas névoas do rio. Não é por acaso que é o monumento mais visitado do Porto. O majestoso Pátio das Nações, coberto por estruturas metálicas envidraçadas, deslumbra-nos logo à entrada. Construído em meados do século xix, por iniciativa e a expensas da Associação Comercial do Porto, está vestido por uma fachada neoclássica correta mas severa, e esconde no interior joias como o faustoso Salão Árabe, a antiga sala de audiências do Tribunal do Comércio e uma magnífica escadaria de mármore e granito. Esplendorosa moradia barroca, com a frente virada para o Douro, encomendada ao arquiteto italiano Nicolau Nasoni pelo abastado cónego Jerónimo Távora. Após ter servido de armazém a uma fábrica de moagens, os trabalhos de recuperação estiveram a cargo de Fernando Távora, pai da Escola de Arquitetura do Porto e descendente do primeiro dono do palácio. O Palácio de Cristal desapareceu. Ficou o nome e os jardins românticos, desenhados pelo paisagista alemão Emílio David há mais de 150 anos. Um espaço de encantamento em todas as estações com japoneiras, tílias, castanheiros-da-índia, araucárias e gingkos entre fontes, estátuas e jardins temáticos como o das plantas aromáticas. O caos portuense fica ao portão. Reduto de tranquilidade no centro da urbe - área total de perto de setenta mil metros quadrados - deve a sua singularidade à junção de espécies centenárias com fontes e chafarizes. O brasão da Fonte de São Domingos e o Universo de Irene são duas das peças mais valiosas. O maior parque urbano do país (e único da Europa que vai até ao mar) tem 83 hectares. O arquiteto paisagista Sidónio Pardal veio de Lisboa para desenhar o espaço verde desejado desde os anos 1960. Com a primeira fase pronta em 1993, foi amor à primeira vista. É o recreio da região com relvados onde as crianças jogam à bola, sob o olhar atento dos patos, o pequeno núcleo rural de Aldoar e quase dez quilómetros de caminhos. Em 2002, o Parque desaguou no mar e a popularidade agigantou-se. O carinho dos portuenses pelo espaço verde, distinguido pela Ordem dos Engenheiros como uma das cem obras portuguesas mais notáveis do século xx, é imensurável. Era a cantareira dos cântaros para ir à fonte, despraiado verde banhado de rio-mar, numa foz ainda sem maiúscula. Pareceu bom poiso aos senhores oitocentistas: dos cântaros fizeram jardim com traçado berlinense de Emile David. Em 1973, nasceu o romântico quiosque. Hoje Chalé Suisso, ainda serve café, tão famoso quanto os sanitários do Passeio Alegre... Queijos, enchidos, bolachas e biscoitos. Tem tudo o que uma mercearia fina deve ter. Abriu em 1917 na Rua Formosa, muito antes de a palavra gourmet entrar no vocabulário dos portugueses. A verdadeira pérola está cá fora: a fachada de azulejos estilo arte nova. Concluída em 31 de março de 1963, a Arrábida foi a primeira das duas pontes com histórias e marcantes na paisagem que Edgar Cardoso fez no Porto - e que acrescentou à cidade a nova centralidade da Boavista. O tabuleiro assenta num arco grandioso, com 270 metros de vão, que à época foi o maior de betão do mundo, o que levou a que muito boa gente suspeitasse de que a ponte iria cair... o que, como se sabe, não aconteceu. Lançada entre o morro granítico da Sé e a escarpa da serra do Pilar, esta ponte de ferro, projetada por Teofilo Seyrig (colaborador de Eiffel) em 1886, é formosa apesar do seu gigantesco arcaboiço que sustenta dois tabuleiros. O de cima está reservado ao metro e peões, de onde se desfruta de uma vista inesquecível, o postal ilustrado do Porto, já que se domina a Ribeira e se avistam a Arrábida, o casario da Sé e os armazéns do vinho do porto. A primeira grande obra de Gustave Eiffel foi construída com rapidez. As obras começaram a 5 de janeiro de 1876 e estavam concluídas a 31 de outubro do ano seguinte. De extraordinária beleza e elegância («toda em renda de Bruxelas», escreveu Teixeira de Pascoaes), esteve ao serviço durante 115 anos. Está desativada. A Ponte São João, que a 24 de junho de 1991 reformou a velhinha Maria Pia, foi a última grande obra de Edgar Cardoso, que não desperdiçou a oportunidade para bater o recorde mundial para o maior vão em ponte ferroviária construída pelo método dos avanços sucessivos. A editora que se celebrizou ao editar o Dicionário da Língua Portuguesa e a História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes, foi fundada em 1944, no Café Piolho, pelo professor universitário Vasco Teixeira e um grupo de colegas. O fundador morreu em 1987, mas a mulher e os filhos desenvolveram um grupo que tem uma quota de quase sessenta por cento no livro escolar, e, através de uma política de aquisições (Sextante, grupo Bertrand/Circulo de Leitores, parceria com Assirio & Alvim), ganhou a dimensão que lhe permite aguentar a borrasca. O embaixador da moda made in Portugal nasceu no Porto em 1995, pelas mãos da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), e nunca mais parou. O projeto internacionalizou-se, saltando os muros da cidade portuense. Paris, Madrid, Barcelona, São Paulo, Nova Iorque, Istambul, são destinos marcados no passaporte, mas a Invicta é o porto de abrigo. Casa do Farol, Mercado Ferreira Borges e Coliseu do Porto foram alguns dos cenários que já acolheram a iniciativa, mas ultimamente tem sido a Alfândega do Por A haver mal nestas coisas, está nos que presumem ter o poder de definir o que está certo e errado, apoucando o que é diferente, mas nem por isso menos correto. A pronúncia do Norte, como qualquer sotaque, tem razão de ser no próprio advento da nacionalidade e na matriz galaico-portuguesa a montante da Reconquista que engordou Portugal com territórios mouriscos. Na documentação medieval é frequente encontrar palavras como «baca» e afins, apenas porque se escrevia aquilo que se dizia, como se dizia. Trocar os vês pelos bês é isso. É ser verdadeiro desde sempre. Desde o momento em que as galerias de arte do quarteirão de Miguel Bombarda se uniram, em inaugurações simultâneas, o comércio da zona cresceu. Fixaram-se lojas gourmet, de estilistas, designers, hostels, bares e restaurantes que tornaram popular o chamado Soho do Porto. Nas inaugurações simultâneas das galerias de arte, as ruas enchem-se de música e festa e há animação durante toda a tarde. A próxima é a 16 de junho. O Douro na névoa. Há manhãs em que o Porto acorda sem Sul, numa viagem nublada da qual só conseguem espreitar as mais atrevidas alturas. O tabuleiro de bilros da Ponte Luiz I ou das irmãs de betão. O Mosteiro da Serra do Pilar, tímido, o morro da Sé, tem dias. Os Clérigos, lá longe. Atravessar o Douro é sentir-se um D. Sebastião a entrar num manto de Porto que é da cor que o olhar entender ver nele. Azul, dirão uns. Cinza-branco. Ou amarelo-pó, no prenúncio matinal de uma canícula. Júlio Brito desenhou-o, Henrique Moreira adornou-o e Rui Veloso imortalizou-o, emocionando a nação lusa com as palavras de Carlos Tê sobre as desventuras de um jovem que, por amor, abdicou de um anel de rubi e acabou sozinho num concerto do Rivoli. A sala de espetáculos, nascida nos anos 1920 e transformada em palco municipal na década de 1970, conheceu de tudo numa vida de altos e baixos: ópera, concertos, dança, teatro e até cinema. Hoje serve, sobretudo, o teatro e é casa do maior festival de cinema fantástico do país: o Fantasporto. A sombra de um gato vadio na triangulação de luz que os telhados desenham sobre o granito puído, a irracional paleta de cores que trepa paredes, uma mesa de cozinha, uma cama com gente a contar dias nela, uma soleira a debitar vidas. Havia milhares de maneiras Melhor aeroporto do mundo na sua categoria, o Sá Carneiro deve em boa parte à Ryanair a sua sobrevivência após tentativa de assassínio perpetrada pela TAP ao retirar-lhe a esmagadora maioria das ligações diretas, centralizadas em Lisboa. A companhia low cost irlandesa liderada por Michael O Nesta noite, o Porto é todo igual. A energia do São João é poderosa e a sua noite envolve os que saem à rua num doce embalo de esperança. É ao mesmo tempo uma gargalhada de gozo e um suspiro de amor, que os portuenses, generosos, partilham com quem vier por bem. As tradições do passado são sempre renovadas na longa madrugada de 23 para 24 de junho. São os martelos e o alho-porro nas cabeças, as cascatas construídas por mãos cada vez mais enrugadas, os carrosséis nas Fontainhas e os concertos em Miragaia, os solidários arraiais de bairro, os balões como estrelas e a apoteose do fogo-de-artifício à meia-noite, com dois palcos: o céu mais o rio Douro a dar-lhe espelho. Na manhã seguinte, outra tradição arranca, a uma dezena de quilómetros do Porto, com o povo de Sobrado, Valongo, a fazer a Bugiada, tradição muito antiga que leva à rua centenas de nativos, em máscaras garridas, a recriar a lenda popular que narra o confronto entre cristãos e mouros pela posse de uma estátua milagreira de São João. Melões, pencas, salsa e alfaces, eis as sementes mais procuradas em maio, numa casa com história. Na Rua de Mouzinho da Silveira, abriu em 13 de janeiro de 1933. À sua frente, uma família de onde saíram banqueiros e outros se mantiveram fiéis aos segredos da terra. Hoje todas as sementes são testadas em laboratório antes de lançadas no mercado. Se quiser fazer um relvado e a área não tiver a mesma exposição solar, não há problema. Há sementes adequadas a sombra e sol: e o tapete, assim, cresce verde e uniforme. Para quê a verdade, se a lenda nos alimenta? Não basta saber que a imagem do Cristo crucificado de Matosinhos é, talvez, a mais antiga no país, importa acreditar que às gentes do mar foi pelo mar deixada e foi esculpida por Nicodemos, que teve contacto direto com Jesus. Para realidade, basta a romaria de sonho, em plena malha urbana. Em poucos anos, Ricardo Campos Costa, médico e antigo andebolista do FC Porto, acrescentou mais um ícone à cidade. A localização (praia do Ourigo) ajudou a cimentar a fama do restaurante. Mas isso seria, por si só, pouco. A cozinha de fusão do chef António Vieira, aliada à qualidade da comida japonesa que o restaurante tem e ao ambiente agradável e confortável proporcionado pela decoração de Paulo Lobo, resultou em pleno. Os antigos túneis que abasteciam de água os chafarizes e fontes da cidade começaram a ser construídos no século xiii e deixaram de ser usados no século xix. Hoje, as galerias exíguas e húmidas, vinte metros abaixo do solo, são um labirinto de mistério e tesouros. Além da bela fachada amarelo-ocre, o que mais apaixona neste edifício de Marques da Silva são as figuras alegóricas da Dor, Bondade, Ódio e Amor que o ornamentam, bem como o seu portentoso interior. É pouco maior do que uma garagem e não se percebe como é que ali conseguem caber centenas de pessoas. O Tendinha é, inevitavelmente, o término de qualquer viagem noturna na movida portuense. O trio dos trinta transformou depressa este hotel de luxo num sítio imperdível. O chef Ricardo Costa (32 anos) trouxe uma estrela Michelin para o restaurante. Beatriz Machado (31 anos) comanda a maior garrafeira portuguesa (25 mil garrafas, 1016 referências). Miguel Velez (39 anos), diretor-geral, não deixa que um grãozinho de areia pouse sobre a máquina. E do lado de lá, a partir daquele terraço, a vista sobre o Douro e o Porto faz o resto. Imperdível. Simplesmente imperdível. Através da toponímia do Porto podemos ficar a saber mais sobre a evolução geográfica, económica e cultural da cidade. Alguns nomes de ruas e largos marcam o caráter rural do sítio: Olival, Moinho de Vento, Souto, Campinho, Moinhos, Póvoa, Regadas. Outros assinalam lugares à beira-rio ligados à vida marítima e ribeirinha: Ribeira, Banhos, Cantareira, Boa Viagem. Há ainda os nomes que nos remetem para antigos ofícios: Bainharia, Caldeireiros, Pelames, Mercadores, Canastreiros, Corticeira. Os feitos heroicos dos portuenses também estão assinalados, nomeadamente aqueles que ocorreram durante o Cerco: Heroísmo, Firmeza, Bataria ou Bataria da Vitória, Alegria. Os santos da devoção popular não foram esquecidos: São João, São Lázaro, São Sebastião, São Roque, Santa Catarina. E há os nomes de escritores. Mesmo dos que, muito provavelmente, nunca estiveram no Porto, como deve ter sido o caso de Camões. Depois: Camilo, Herculano, Eça, Júlio Dinis, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Gil Vicente. Os políticos chegaram depois da vitória do liberalismo e ainda não pararam: Rodrigues de Freitas, Fernandes Tomás, Alves da Veiga, Alferes Malheiro. E mais modernamente: Sá Carneiro, Humberto Delgado, Virgínia Moura, Dionísio Ferreira dos Santos Silva e Artur Santos Silva. É «o ponto de exclamação do Porto», diz Agustina (ou «o ponto de espantação», dizia O"Neill). Erigida em 1763 por Nicolau Nasoni, barroca e granítica, a torre de 75 metros, incrustada de santos, fogaréus e cornijas, é uma maravilhosa catacumba vertical que se sobe em círculo pelo miolo acima. Duzentos e quarenta degraus depois, com a vista oblíqua de pássaro, percebemos o que dizia Pascoaes: «A Torre dos Clérigos é o Porto todo espremido para cima.» Surpreendente conjunto escultórico do espanhol Juan Muñoz A verdade é que feijoada com estômago de bovino - as tripas, ou a dobrada (Álvaro de Campos cometeu o pecado capital de escrever «dobrada à moda do Porto», mas tem perdão por ser Fernando Pessoa) - é coisa que se faz noutros países, mas não com o apuro que lhe dão os tripeiros, pois é a própria identidade que reconstroem de cada vez que a panela vai ao lume. Ser tripeiro, diz a lenda que pelo contributo dado pela cidade à frota que partiu à conquista de Ceuta, em 1415, é motivo de orgulho. É um viveiro de ministros Por mais que se procure por essa Europa fora, não é fácil encontrar uma cidade com as caraterísticas das do Porto. Sem temer o exagero, pode dizer-se que é única no mundo. Fez--se pelo rio e por uma intensa atividade mercantil. Ainda hoje o portuense não perdeu o ar apressado dos seus antepassados que viviam do comércio e dos negócios. Mas é errado pensar que vivem absorvidos somente na mira dos lucros ou que em livros se interessem apenas pelo do Deve e Haver. Para além da vida dos negócios, o homem do Porto distingue--se ainda pelo seu modo peculiar de viver e de conviver e pelo acento áspero que coloca no modo de falar que às vezes se traduz naquele vernáculo que faz corar as pedras da calçada... A unanimidade nem sempre é consensual e a prova disso é a escolha do local de onde se pode desfrutar da melhor vista do Porto. Toda a gente é unânime em dizer que é de Gaia, mas depois não há consenso relativamente ao sítio exato. Hipóteses fortes: descida de General Torres, Cais de Gaia, varandas do The Yeatman, esplanada do Arrábida Shopping, Cabedelo... O melhor é experimentar todas... Chama-se a Regional de Camões, mas é conhecido pelo Zé da Serra ou, para os amigos, o Zé Ladrão. Fica na serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, e além da comida tradicional e saborosa - recomenda-se os filetes de pescada - destaca-se a rica carta de vinhos em que se pode encontrar até um Barca Velha.
Um excelente artigo do DN sobre a cidade do Porto. Às vezes temos as coisas aqui tão perto que não sabemos aproveita-las.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dia normal no Pingo Doce (no comments) parte 2

Dia normal no Pingo Doce (no comments)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pergunta do dia

Está a decorrer no facebook do blog uma votação:

Qual o Jogador em que o Sá Pinto vai enfiar o primeiro enfesto nas "bentas"?

Qual o vosso palpite?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Ai é?! Piegas é a tua tia!



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Superbowl Ads 2012

Before anything, like our new facebook page:

http://www.facebook.com/pages/Os-Filhos-da-Virgem/293590810705773



O Superbowl em si já é um grande espectáculo digno de se ver, mas adicionando os anúncios que as grandes marcas mundiais criam em específico para este evento o show ainda fica maior.

Realmente se ao segundo de publicidade se pagam balúrdios astronómicos, mais vale que seja para transmitir algo de qualidade, aqui ficam os melhores anúncios (não todos pois ainda não os encontrei a todos mas grande parte):

Bridgestone





Budweiser






America's Got Talent



NFL





Danone



Doritos





Coca-Cola







Teleflora



Century 21



Cars.com



The Voice (equivalente ao programa da rtp "Voz de Portugal")



Hyundai







Lexus



Bud Light







Kia



Chrysler



Volkswagen



Audi



Time Warner Cable



Suzuki



MetLife



FIAT



Cadillac



SKECHERS



Samsung



TaxACT



Hulu



Chevrolet







Honda



Chase QuickPay



CareerBuilder



Toyota





M&M'S (para mim o melhor)



H&M



Pepsi



E*TRADE

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cotações do BCP

As cotações do BCP atingiram o mínimo histórico de 0,12 cent.


E resolvi fazer uma lista de 10 coisas mais caras que uma acção de um dos maiores bancos portugueses:

1º Café numa faculdade 0.30€
2º Um pacote de bolachas integrais 0.40€
3º Imprimir 4 folhas numa reprografia perto de si 0,15
4º 3 pastilhas elásticas Gorila 0,15€
5º pagar a um arrumador
6º 1 lápis 0.20€
7º um rolo de papel higiénico 0.40€
8º Pulseira inviolável para festival 0.19€
9º 1 cd virgem 0.20€
10º Uma rifa dos escuteiros 0.5€

Acho que escusa mais comentários...